Dessa vez eu quis tentar algo novo: pensar como um cachorro! Não que isso não tenha acontecido antes... mas pra escrever foi a primeira vez.
Veja como ficou e aproveite!
Hoje estou fazendo
aniversário e tenho a impressão de que ninguém se lembrou. Ou pode ser uma
festa surpresa, daquelas onde ninguém te avisa nada e quando você menos espera
todos pulam do escuro com um bolo cheio de velinhas, apitos e confete. Quem
sabe pulem de trás das prateleiras e gritem “Parabéns Biscoito, feliz
aniversário!”. Eu iria ficar tão surpreso, acho que meu rabo iria sair do lugar
de tão contente.
Sobre o meu nome, sim, é
Biscoito. Eu achava ele bem bobo, até descobrir que é como os humanos chamam
umas comidas deliciosas que eles fazem. Então eu fiquei feliz. Quem me deu esse
nome foi minha dona, uma mulher inesquecível, tão linda com seus cabelos
branquinhos e mãos fofinhas. Todos os dias ela acordava bem disposta e fazia
questão de abrir a janela para ver o sol nascendo enquanto gritava aos quatro
ventos o quanto o mundo era maravilhoso. Eu dormia aos seus pés, na cama, e
erguia minha cabeça por cima das cobertas para ver sua explosão de felicidade.
Corria para pegar seus
chinelos e o jornal enquanto ela arrumava a mesa para tomarmos o café da manhã.
Eu a amava tanto. Ela nunca se importava quando eu, nos meus dias de filhote,
mordia os móveis, rasgava as coisas ou fazia cocô fora da caixinha. Talvez ela
entendesse que nem sempre dava tempo, poxa!
O dia mais triste da minha
vida foi quando o Sol nasceu e ela não acordou. Fiquei aos seus pés, esperando
o grito de “Bom dia”. Mas se foram três dias sem “Bom dia”. Eu cutuquei sua
barriga com meu focinho e ela não respondia. Mais tarde eu vi uns homens
entrarem na casa e levarem ela em um saco. Eu protestei, mas a mulher que
morava do lado da nossa casa me segurou e me levou para casa dela. Cada noite
dali em diante eu chamei pela minha querida dona, mas acho que isso irritava
meus novos donos. Rapidinho eu vim parar aqui, nessa casinha pequena com grade
na frente.
Agora não consigo ver o nascer
do sol. Vejo apenas um corredor de caixinhas iguais à minha com mais bichos
dentro, todos cabisbaixos. Às vezes me pergunto se eles têm histórias como a
minha, se um dia tiveram donas amorosas de mãos fofinhas para acariciar suas
orelhas e lhes servir comida.
Nossa, como faz tempo...
Sinto falta da minha querida
dona.
Eu ouço as pessoas daqui
dizendo que um dia eu vou achar outro dono, porém falam isso há muito, muito
tempo. Até em anos humanos faz muito tempo.
De lá pra cá minhas patas
ficaram travadas, ninguém passeia comigo, meu pelo não é mais brilhante porque
ninguém mais o penteia e passa xampu, minha visão ficou bem fraca, mas meu olfato
ainda é incrível. Sinto cheiros novos todo dia, mas nenhum deles é o aroma do
amor. Porque nenhum ser humano com amor vem aqui? Acho que eles preferem um
bichinho mais novo, mais serelepe, que aguenta correr atrás de bolinhas e que
não tem pulgas. Pobres coitados, os humanos, não sabem o quanto amor nós temos
pra dar em troca.
Mas essa é a minha vida
agora. Esperar. Esperar alguém para quem dar meu amor, lamber a mão e ir buscar
os chinelos. Só que eu não perco a esperança nunca!
A cada badalada do sininho
sobre a porta, indicando que mais uma pessoa entrou, eu volto a abanar meu rabinho,
abro minhas pálpebras pesadas e sorrio. Minha voz se une a da multidão de
bichinhos. Um pedido em uníssono, triste e ao mesmo tempo esperançoso, por um novo
lar quentinho e confortável onde possamos deitar a cabeça cansada após um dia de brincadeiras e esperar o próximo nascer
do sol com aqueles que amamos.
Até a próxima postagem!